Introdução
Queridos irmãos e irmãs, graça e paz vos sejam
multiplicadas da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Hoje iremos
meditar no capítulo 5 da epístola aos Hebreus, onde encontramos um ensino
profundo sobre o sacerdócio de Cristo. O autor nos apresenta Jesus não apenas
como Rei, mas também como Sumo Sacerdote, capaz de se compadecer de nossas
fraquezas e de nos oferecer um acesso contínuo ao trono da graça. Que o
Espírito Santo nos conduza neste estudo, tocando nossos corações para que
entendamos melhor o ministério sacerdotal de Cristo e o significado de sermos
cuidados por Aquele que também foi tentado em todas as coisas, mas sem pecado.
I. O Papel do Sacerdote (Hebreus 5:1-3)
"Porque todo sacerdote é constituído dentre os
homens, sobre os homens, em coisas referentes a Deus, para oferecer dons e
sacrifícios pelos pecados..." (Hb 5:1a)
1. Sacerdote: Mediador de Sacrifícios
- O autor de Hebreus começa lembrando que "todo
sacerdote é constituído dentre os homens" (v.1). Ou seja, o sacerdote era,
primeiramente, um homem comum, sujeito a desejos, angústias e tentações como
qualquer outro. Sua função principal era intermediar entre o povo e Deus,
oferecendo sacrifícios pelos pecados da congregação (v.1).
- No sistema levítico, o sacerdote entrava no
Santo Lugar para apresentar incenso, ofertar sacrifícios pelos pecados do povo.
Isso nos lembra da gravidade do nosso pecado e da necessidade de mediação.
2. Compaixão pelas Fraquezas
- O versículo seguinte diz: "É necessário,
pois, que este homem seja capaz de compadecer-se dos ignorantes e dos
errantes…" (v.2a). O sacerdote não podia ser insensível. Ele deveria
experimentar as mesmas fraquezas daqueles a quem servia.
- Isso nos faz refletir: quantas vezes
necessitamos de alguém que entenda nossa luta? O sacerdote, sendo humano,
cometeu falhas, sentiu medo e precisava buscar o perdão de Deus. Portanto, ele
podia oferecer sacrifícios "pelos seus próprios pecados, como pelos pecados do
povo" (v.3). O texto ressalta que, moralmente, ao reconhecer as próprias
fraquezas, ele se tornava apto a conduzir o povo ao Senhor.
3. Luta Contra as Próprias Fraquezas
- O versículo 3 chama a atenção para o fato de
que "o próprio sacerdote também está sujeito a fraquezas". Mesmo conhecendo a
Lei, ele precisava oferecer sacrifício pelos seus próprios pecados antes de
cuidar dos demais.
- Aqui percebemos uma profunda lição: ninguém
está isento de pecado, nem mesmo aquele que ocupa o altar. O sistema levítico
mostrava que o sacerdote—o homem mais próximo do Santo dos Santos—ainda era
dependente da graça de Deus. Podemos nos perguntar: como é que Jesus, nosso
Sumo Sacerdote, lidou com as fraquezas humanas? Veremos no próximo ponto que
Ele veio, sim, a experimentar fraquezas, mas sem pecado.
II. O Chamado e a Autoridade Sacerdotal
(Hebreus 5:4-6)
"E ninguém se toma a si mesmo esse sacerdócio,
mas é chamado por Deus, como também Arão. Assim Cristo não se glorificou a si
mesmo, para se tornar Sumo Sacerdote, mas o que lhe disse: 'Tu és meu Filho,
hoje gerei-te'; como também em outro lugar diz: 'Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedeque.'" (Hb 5:4-6)
1. Chamado Divino ao Sacerdócio
- O autor faz questão de destacar: "ninguém se
toma a si mesmo esse sacerdócio; antes, é chamado por Deus" (v.4). Arão, nosso
representante do sacerdócio levítico, precisou ser separado por Deus para
exercer tal função (Êxodo 28–29). De forma análoga, Cristo não assumiu o ofício
por si próprio; o Pai O chamou e O constituiu.
- Esse "chamado divino" é o fundamento de toda
autoridade espiritual. Quem não é chamado por Deus não pode oferecer mediação
válida diante do Santo.
2. Jesus, Sumo Sacerdote Perpétuo
- O texto afirma: "Cristo não se glorificou a
si mesmo para se tornar Sumo Sacerdote…" (v.5). Aqui vemos que não houve nenhum
ato humano de autopromoção de Jesus; tudo provém do Pai.
- O interessante é que, no versículo 5, o autor
cita duas passagens: a primeira, "Tu és meu Filho, hoje Te gerei" (Sl 2:7),
falando da filiação exclusiva de Cristo; a segunda, "Tu és sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (Sl 110:4). Essas referências
conectam a realeza e o sacerdócio. Cristo é tanto Rei (Filho) quanto Sacerdote,
mas Seu sacerdócio não segue a linhagem de Arão – segue a ordem de
Melquisedeque.
3. Sentido de "Ordem de Melquisedeque"
A. Cristo como Melquisedeque: Sacerdote e Rei
- Melquisedeque, em Gênesis 14, é "rei de
Salem" (o que significa "rei da paz") e "sacerdote do Deus Altíssimo". Ele
abençoou Abraão e recebeu dízimos dele. Portanto, Melquisedeque exercia
simultaneamente ofício real e ofício sacerdotal.
- Cristo, por sua vez, também exerce a realeza
e o sacerdócio em união perfeita. Como Rei eterno, governa com poder; como
Sacerdote, intercede por nós continuamente.
B. Sacerdócio de Cristo Anterior ao de Arão
- Melquisedeque aparece em Gênesis muito antes
do surgimento da tribo de Levi e do sacerdócio de Arão (Séculos depois, no
Sinai). Portanto, o sacerdócio de Melquisedeque é "sem genealogia" e, ao
apontar para Jesus, indica que o sacerdócio de Cristo não se baseia em laços
carnais, mas no decreto eterno de Deus.
- Isso confirma que Jesus é Sumo Sacerdote
"para sempre", sem possibilidade de sucessão ou interrupção. Ao contrário dos
sacerdotes que morriam e precisavam ser substituídos, Cristo vive para sempre e
sustenta o sacerdócio eterno.
C. Cristo como Sacerdote e Rei de Jerusalém
- Melquisedeque foi "rei de Salem" (Salem,
interpretado como Jerusalém) antes que a cidade recebesse oficialmente o nome
de "Jerusalém". Da mesma forma, Cristo reina sobre a Nova Jerusalém, que não é
mero território geográfico, mas a comunidade celestial de Deus (Apocalipse 21).
- Jesus não apenas reina, mas também oferece
sacrifícios—o Seu próprio sangue—por nós. Ele é, portanto, Sumo Sacerdote e Rei
num único ofício, conforme aquela antiga ordem, superior ao sacerdócio
puramente levítico.
III. As Qualificações de Cristo (Hebreus
5:7-10)
"Sobre estes dias de sua carne, oferecendo, com
grande clamor e lágrimas, súplicas e orações a Aquele que o podia livrar da
morte, e foi atendido por causa de sua reverência, ainda que era Filho,
aprendeu a obediência pelas coisas que padeceu; tornando-se, como está, para
todos os que lhe obedecem autor de eterna salvação." (Hb 5:7-9)
1. Cristo em Oração e Súplica
- No versículo 7 vemos um retrato emocionante
de Jesus orando ao Pai, "com grande clamor e lágrimas". Estamos diante do
Jardim do Getsêmani, onde Ele sentiu o peso da angústia e antecipou a dor da
cruz (Mt 26:36-46; Mc 14:32-42; Lc 22:39-44). Ainda sendo Filho, Ele "aprendeu
a obediência" por meio do sofrimento, qualificação essencial para o sacerdócio:
não é um sacrifício impessoal, mas um sacrifício que provém de quem passou
pelas mesmas provações que nós.
- Isso nos conforta, pois temos um Sumo
Sacerdote que nos compreende em nossas fraquezas (Hb 4:15). Ele não é um Deus
distante, mas um Salvador que sente com o nosso coração aflito.
2. Compadeceu-se dos Fracos
- A empatia de Cristo não é meramente
intelectual: Ele se compadeceu "pelos que ignoravam e erravam" (v.2). Em Sua
vida terrena, Jesus se aproximou dos doentes, comia com marginalizados e
pecadores arrependidos (Mt 9:10-13; Lc 7:36-50; Jo 8:1-11).
- Sua compaixão imita o modelo sacerdotal do
Antigo Testamento, mas vai além: Ele É o sacrifício perfeito. Em vez de
oferecer animais, Ele Se ofereceu em nossa defesa, resgatando-nos da condenação
(Hb 10:10-12).
IV. O Chamado ao Crescimento Espiritual
(Hebreus 5:11-14)
"Dos quais deveríamos ser mestres, porquanto já
deveríeis ser mestres, visto que necessitais de que se vos torne a ensinar
quais sejam os primeiros fundamentos das palavras de Deus; e demasiadamente,
necessitais de leite e não de sólido alimento. Porque todo aquele que ainda se
alimenta de leite não tem experiência da palavra da justiça, pois é menino; mas
o sólido alimento é para os maduros, cujos sentidos exercitados discernem tanto
o bem como o mal." (Hb 5:12-14)
1. Crítica à Estagnação
- Os hebreus destinatários da carta estavam
"tardios em ouvir" (v.11). Embora a epístola deva ter sido escrita poucos anos
após a morte de Cristo, alguns interlocutores ainda se agarravam a costumes
judaicos, a rituais cerimoniais e ao sacerdócio levítico (v.12a).
- A advertência é clara: não podemos ficar na
"escola inicial" para sempre. Há um convite ao aperfeiçoamento, ao
aprofundamento na doutrina de Cristo, no entendimento do sacrifício consumado e
no ministério do Sumo Sacerdote eterno.
2. Leite e Alimento Sólido
- "Leite" neste contexto denota a instrução
básica: arrependimento, fé em Cristo, batismo e primeiros princípios da
santificação (Hb 6:1-2). "Leite" era ensinado a crianças espirituais, que ainda
não estavam prontas para os "alimentos sólidos", ou seja, doutrinas mais
profundas sobre o sacerdócio, o sacrifício expiatório e o reinado de Cristo.
- O autor faz uso de termos que, em sua época,
também tinham ressonância ética: "alimento sólido" indicava instruções éticas
robustas e convictas, que moldavam o caráter cristão maduro.
3. Maturidade Espiritual e Discernimento
- O "sólido alimento" é reservado aos maduros,
"cujos sentidos exercitados discernem tanto o bem como o mal" (v.14). Isso
aponta para uma maturidade que se adquire na vivência diária com a Palavra, sob
a direção do Espírito Santo.
- A exortação é para que não nos contentemos
com o essencial, mas que avancemos para a profundidade de Cristo, investigando
o mistério de sua pessoa: Rei e Sacerdote, que vive para sempre.
Conclusão e Aplicação Prática
Amados, o capítulo 5 de Hebreus nos alerta e
encoraja:
1. Acolher Jesus como nosso Sumo Sacerdote
- Reconheçamos que temos um mediador perfeito,
capaz de se compadecer de nós, pois Ele mesmo passou por provações. Corramos
confiadamente ao trono da graça, sabendo que Ele nos entende, não apenas como
seres humanos frágeis, mas como pecadores perdoados.
2. Valorizar o Chamar de Deus
- Jesus foi chamado pelo Pai, conforme o
juramento eterno de "Melquisedeque", sendo sacerdote e Rei. Imagine quão
grandiosa é essa verdade: o Senhor não toma a si mesmo essa honra, mas é o Pai
que o constituiu. Devemos também vigiar para não querer fazer ministério por
autopromoção, mas somente pelo chamado divino, em humilde submissão à vontade
de Deus.
3. Buscar Maturidade Espiritual
- Não permaneçamos na carne, apegados somente
aos "leites" elementares. O Espírito nos chama para conhecer a profundidade do
sofrimento e da intercessão de Cristo, para que cresçamos no discernimento, e
possamos distinguir o bem do mal no mundo e em nosso coração.
- Pratiquemos o estudo diligente da Palavra, a
oração perseverante, a comunhão com os santos e a vivência dos frutos do
Espírito, tornando-nos "maduros" que amam a verdade e a justiça.
4. Exercitar a Obediência através do Sofrimento
- Cristo "aprendeu a obediência pelas coisas
que sofreu" (v.8). Através do sofrimento, Ele cumpriu plenamente a vontade do
Pai. Nós, também, somos exortados a perseverar em meio às aflições, confiando
que Deus usa cada provação para nos aperfeiçoar, esculpir o caráter e moldar-nos
à imagem de Cristo.
Que possamos, então, reconhecer e celebrar
Jesus como nosso Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, confiando em
Sua mediação eterna e permitindo que Ele nos conduza a uma obediência
verdadeira, amadurecimento espiritual e vida transformada. Se ainda estamos
agarrados aos "leites" e resistência ao novo, abandonemo-nos, hoje mesmo, à
graça do Senhor, que quer nos conduzir ao "alimento sólido" da íntima comunhão
com Ele. Amém.